Uma viagem do Brasil para a Alemanha

Uma viagem do Brasil para a Alemanha

Neve em vez de areia da praia

Uma jovem brasileira descobre uma cidade alemã e vivencia a liberdade

Pietra Meirelles Malusá Gonçalves tem 15 anos e é brasileira. A sua família vive em Ribeirão Preto, uma cidade com cerca de 700.000 habitantes, a cerca de 320 quilômetros a noroeste de São Paulo, no Brasil. Ela fez uma viagem do Brasil para a Alemanha e passou cerca de dois meses na cidade de Passau. Conheceu o inverno, festejou o Natal, fez um curso de línguas, explorou os arredores juntamente com a família com quem estava alojada e, acima de tudo, viveu a vida quotidiana normal. “Para mim, a Alemanha significou ser livre de uma forma que eu nunca tinha conhecido antes”, diz ela sobre esse tempo que passou lá.

O dia a dia na Alemanha

O dia a dia – o que significava, entre outras coisas, pegar o ônibus para a escola de línguas sozinha de manhã, sem a companhia dos pais. Isso é quase impensável para uma garota de 15 anos que mora no Brasil. O que a surpreendeu mais ainda é que, na Alemanha, até as crianças da escola primária vão sozinhas para a escola, a pé ou de ônibus. “Andei de ônibus sozinha em Passau pela primeira vez na minha vida”, conta, “e foi algo muito especial para mim. Até gostava de me levantar às 6h20 da manhã para fazer isso”.

A sua rotina diária era a de uma adolescente normal: ir à escola, voltar para casa, fazer as tarefas de casa, participar na vida familiar, ir às compras, encontrar-se com os amigos. “Para mim, Passau é a cidade mais bonita do mundo, não só por causa das belas casas antigas, das igrejas e das ruas estreitas, mas também por causa dos três rios, das lojas pequenas, dos cafés e, acima de tudo, por causa das pessoas que me receberam de braços abertos.” O fato de os alemães serem bastante frios e pouco emotivos, como muitos tinham dito para ela, não foi exatamente o que ela encontrou. “É tudo mentira!”, hoje ela sabe e acrescenta com uma gargalhada: “Só a questão da pontualidade é que é verdade.”

No topo da sua lista: a neve

Foto: Nicola Jacobi

Com exceção de alguns itens, ela conseguiu assinalar tudo na sua lista de tarefas. No topo da lista estava a palavra neve: esquiar, construir bonecos de neve, fazer lutas de bolas de neve. Experimentou de tudo, até trenó e patinagem no gelo. Pela primeira vez na sua vida, viu flocos de neve muito grossos. Antes da sua viagem, estava com receio de que fosse muito entediante ver apenas branco por todos os lados.

Mas, em primeiro lugar, a neve só ficou por alguns dias e, em segundo lugar, ela adorou. Tornou-se uma fã da neve e do Natal. “Uma verdadeira árvore de Natal, uma loucura, como nos filmes!”, entusiasma-se. “Mercados de Natal, biscoitos, presentes embrulhados à mão, o Menino Jesus – foi o Natal mais mágico que já vivi.”

Photo: Nicola Jacobi

Nos finais-de-semana, Pietra e a sua família anfitriã exploraram Passau e os arredores: passaram um dia em Regensburg e Munique, visitaram Budweis e o Castelo vizinho Hluboká, numa viagem através da fronteira com a República Checa, fizeram passeios nos bosques da região, subiram na estrutura construída que permite ver o topo das árvores no centro do parque nacional Lusen, na Floresta da Baviera – e fizeram uma caminhada de Dreisessel até Dreiländereck, ao pôr-do-sol. “Foi o mais legal de tudo, com petiscos bávaros, vistas fantásticas e adrenalina”, diz Pietra. “Fomos com toda a família, tias, tios, primos e o cachorro Jack. O caminho de regresso foi estava escuro como breu, mas felizmente tínhamos lanternas de cabeça e de mão.”

Abrir a cabeça para novas experiências

Foto Nicola Jacobi

Para a jovem brasileira, estes dois meses foram uma aventura em muitos aspectos. Ela, que se descreve como bastante tímida e reservada, viajou meio mundo sozinha, para um país longe de casa que nunca tinha estado na sua lista de viagens e cuja língua mal conhecia. “O tempo que passei em Passau mudou-me, tornei-me mais aberta a novas experiências, mais corajosa, mais livre, mais independente. Agora tenho mais auto-confiança e tomo mais minhas próprias decisões, enfim, atrevo-me a ser eu mesma”.

O fato de Pietra ter vindo para Passau tem uma longa história: seu pai, Daniel, passou cerca de um ano em Tübingen quando era criança, pois seu pai era professor convidado na universidade local. Na escola, Daniel era amigo de um rapaz da sua turma que agora vive em Passau com a sua família. Há alguns anos, os dois se reencontraram no Facebook e, desde então, mantêm-se em contato. No Verão passado, as duas famílias encontraram-se no Brasil, criando assim uma estreita amizade. “Queria voltar a ver a família o mais depressa possível”, diz Pietra. Hoje, ela até se imagina morando na Alemanha durante mais tempo. Até lá, ela já levou um pedaço da Alemanha e um pedaço de liberdade para o Brasil.

Nicola Jacobi